Sou tão grande que não caibo em mim
O de fora é a minha própria substância
Meus fantasmas eu mesma criei
E eles existem e me borram
Pois são a sobra que se agarra em mim
Mesmo que não os conceba
Sinto seu odor
Ainda que nada neles possa me exaurir
Já que nenhuma obra devora o criador
E a boca não mastiga os dentes
O mundo é meu aparelho excretor
Por isso meu cu é redentor
De tudo que desejo e tudo que abomino
Concebo regras para eliminar meu tédio
Inverto criação e criatura
Olho e cu
Boca e dentes
Transbordamento e recipiente
De arquiteta viro arquitetura
Me invento como mero evento
Digo que fui parida pelo mundo
Que sou como folha ao vento
Que do pó eu vim e para o pó irei
Sou súdita de toda merda que criei
Busco a conciliação impossível
Da existência imponderável
E do meu vazamento permanente
Para tal inventei o medo
Que possibilita me separar mim
Medo do que sobra
Como a verdade objetiva
Da minha existência imanente
Criei à metafísica
Para dar ordem ao excludente
Dei todo poder ao que entornou da minha substância
Imploro a dejetos, a eventos que saíram do meu reto
Que me criem e me completem
( inventei o vazio transbordante)
O homem é feito de barro
Diz a verdade anunciante
Do criador deste universo excretante
Sim, todo sujeito
Objeto e espaço circundante
É feito de barro
Do barro que derramei
Tudo em mim que sobra
É o mundo que criei
Para retornar ao meu reto
Ferindo-me de excessos
E transbordar nos meus olhos
Como lágrimas que devolvo a ti
Ao mundo
Ao criador
Ao universo
Que derramei
E me derramou
Sou a lágrima que me chorou