quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Pó é sia

Não me engano
Não abraço a serpente
Encaro-a de frente
Já que tenho que enfrentá-la
Não darei as costas
A quem traça uma mortalha
Sinuosa, disfarçada
Quer abraçar sem braços
Quer enrolar-se no meu corpo
Quer meu medo, minha vigília
Meu calor, minha alegria
Quer engolir-me inteira
Com sua boca rápida e sorrateira
Sorri-me com dentes venenosos
Já quebrou meus ossos
Mas sobrevivi
Como tenho braços
Pude abraçá-la por dentro
E inverter o movimento
De consumo e digestão
Conheço-a agora por completo
Sua boca, seu esôfago, sua mente, seu reto
Seu abraço de mentira
Que não pode enlaçar corpos
Agora a fito
Sem mistério
Sem segredo
Sem amor
Sem sorrir
Que venha com seu bote previsível
Não arredo o pé daqui
Sobre a serpente e a víbora já andei
Me levanto para não mais cair