quinta-feira, 2 de junho de 2016

Que tu ajas


Haja U pra tantos ais

Haja CU pra tanto caos

Ajas TU

Mas ajas mais

Atraque-se

No meu cais

 

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Emplacada


 
Me espreita de longe
Como alguém que se esconde
Como ato indevido

Não entende o que quer

Impelido a uma expectativa nula
Sou mais uma mulher

Não tão boa pra ser tua
Espera que eu volte

Como quem nada nota
Para dar-lhe um riso

Raso
Furtivo

Furtado
Me julga inadequada

Absurda
Descabida

Doida varrida
Tímida espalhafatosa

Sem Caetano que lhe cante
Cujas tetas não vistes

E os segredos não visitastes

Alguém que te espera bússola
Que grita uníssona por ti

Contudo e tudo há de existir
Na minha vida
Não há norte

Ainda que não note
Não és os sapatinhos vermelhos de Dorothy

Na bagunça do que sou
Não há porta do fundo

O espelho quebrou

Sou um chute nos ovários do mundo
Mas não sou um chute a gol

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Pó é sia

Não me engano
Não abraço a serpente
Encaro-a de frente
Já que tenho que enfrentá-la
Não darei as costas
A quem traça uma mortalha
Sinuosa, disfarçada
Quer abraçar sem braços
Quer enrolar-se no meu corpo
Quer meu medo, minha vigília
Meu calor, minha alegria
Quer engolir-me inteira
Com sua boca rápida e sorrateira
Sorri-me com dentes venenosos
Já quebrou meus ossos
Mas sobrevivi
Como tenho braços
Pude abraçá-la por dentro
E inverter o movimento
De consumo e digestão
Conheço-a agora por completo
Sua boca, seu esôfago, sua mente, seu reto
Seu abraço de mentira
Que não pode enlaçar corpos
Agora a fito
Sem mistério
Sem segredo
Sem amor
Sem sorrir
Que venha com seu bote previsível
Não arredo o pé daqui
Sobre a serpente e a víbora já andei
Me levanto para não mais cair

 

segunda-feira, 15 de junho de 2015

A dor arte

Doida doida doida doida  Doída doída doída doída  Dói dói dói dói dóiiiiiiiiiida  Ida ida ida ida i dá i dá i dá  Dá dá dá dá dá dá dá dó  Dá dá dá  Dadaísmo  Dá dá dá iiiiii deu  Doida  Dou ida  Dó dó dó dói  Doeu  Dó eu  Eu eu eu eu e...  Ida ida ida ida ida ida ida E dá dá dá dá   Doarrrrrr  Ar ar ar ar dá  Arde dê dê dê ar  Ar ar ar dor  Ardor  Dói ói ói ói ói ói ió  Dócil ió ió ió iiiiiii  Ócio dou  Óooooo cio  Cio cio cio cio cio cio  Dar ar ar ar Arrrrrrrr  Dô e dá  Doida  Dá dó dá dó dá dó  Dó dá dó dá do dá  Dados dados dados  Dá dois dó dois dó dois  Dois dá dois dá ar  Dá dores  Ores ores ores ores ores ores ores  Deus  Dê Deus  Deus dá  Dá eu eus eus eus eus  Dê eus dá  Doida doida doida  Dor da ida  Doída  Se foi  Foice  Foi dar dar dar a si  Foda-se   Foder   Fodida  Ida ida ida ida i dá  Carne  Mói  Mói ida I dá i dá i dá  I dei i dei i dei  Ideia ideia ideia  Ia ia ia ia há   Dei-te dei-te dei-te  Deite  Deita deita deita  Deleita  Dê lei  Tá tá tá tá tá tá  Dê lira Ira Ira ira iraaaaaaaaaa  Dê dê dê  Demoníaca  Doida doida doida  Doída doída doída  Vá ri dá   Ri ri ri ri ri  Vida  Vi dá vi dá vi dá vida  Dúvida dúvida dúvida  Tu vida vá  Tu tu tu tu tu tu tu tu tu tu  Vida Vá rir dor  Dor dor dor ar  Arte  Ti ti ti ti ti ti ti ti tá arrrrrrrrrrrrrr  Artrite  Triste triste triste triste   Arrrrrrrrrrrrrr  Ar ar ar ar te te te te te te  Dar-te Arrrrrrrrr  Ar ar ar ar tu arrrrrrrr  Atuar  Tua tua tua tua   Ar ar ara arar   Artista  Autista  Doida  Doída  Dou ar   Triste  Arte ria  Artéria ar ar ar arrrrrrrr  Tutu tutu tutu tutu tá  Tatuar-te  Arte tudo dá  Bate bate bate  Tá tá tá tá  Batida  Ida ida ida i    E dá dó  Dorme merda dar-me dói  Me dá medo dá dor dei  Vi dor ou  Ouvidor  Ouvi dor  Dor há  Doar  Dorar  Adorado  Ar ar ar ar ar vou  Voar ar ar ar  Vôo oooooooooo  Vida dá deu dó a ti  Arte  Tear-te  Amar-te arte ar  Atear-me a ti mar  Amar amar amar amar ar ar ar ar ara  Martelar-me  Me ame a mim  Rima a mim nina  A menina ri-me  Amém doída amendoim  Amém dói em mim  Dormir me doía mais  Dúvida da vida dói-me  Dor há  Ar dor ar ar ar ar  Ar  Te  Ria  Artéria  Tu tu tu tu tudo dá  Vida  Ri  Risos  Sós  Sorrisos sem mais  Ais ais ais ais  Ares ares ares  Areias, sóis  Sois só Sol arde  Ar ar ar a ti  Arte ria  Vida dói arte  Doar-te vida doía  Vi Doida doida doida...
 

quarta-feira, 18 de março de 2015

Anal lógica


Sou tão grande que não caibo em mim
E tudo que me vaza é porque não me coube
O de fora é a minha própria substância
Meus fantasmas eu mesma criei
E eles existem e me borram
Pois são a sobra que se agarra em mim
Mesmo que não os conceba
Sinto seu odor
Ainda que nada neles possa me exaurir
Já que nenhuma obra devora o criador
E a boca não mastiga os dentes
O mundo é meu aparelho excretor
Por isso meu cu é redentor
De tudo que desejo e tudo que abomino
Concebo regras para eliminar meu tédio
Inverto criação e criatura
Olho e cu
Boca e dentes
Transbordamento e recipiente
De arquiteta viro arquitetura
Me invento como mero evento
Digo que fui parida pelo mundo
Que sou como folha ao vento
Que do pó eu vim e para o pó irei
Sou súdita de toda merda que criei
Busco a conciliação impossível
Da existência imponderável
E do meu vazamento permanente
Para tal inventei o medo
Que possibilita me separar mim
Medo do que sobra
Como a verdade objetiva
Da minha existência imanente
Criei à metafísica
Para dar ordem ao excludente
Dei todo poder ao que entornou da minha substância
Imploro a dejetos, a eventos que saíram do meu reto
Que me criem e me completem
( inventei o vazio transbordante)
O homem é feito de barro
Diz a verdade anunciante
Do criador deste universo excretante
Sim, todo sujeito
Objeto e espaço circundante
É feito de barro
Do barro que derramei
Tudo em mim que sobra
É o mundo que criei
Para retornar ao meu reto
Ferindo-me de excessos
E transbordar nos meus olhos
Como lágrimas que devolvo a ti
Ao mundo
Ao criador
Ao universo
Que derramei
E me derramou
Sou a lágrima que me chorou

domingo, 26 de outubro de 2014

Dê lírios


 
    



Dê lírios                                                           

Te dei lírios
Dei liras também
Dei lirei
Dê lerás?

Ou  de leterás?
Darás letra?
Dê leite
De lei
Te dei
Leituras
Dei -me a ti
Amamentei-te
Amei tua mente
Teu ente
Dês peço
Peço que dês
Dês pida
Dei a ti
Essência
Dê essência
Deite
Dei-te
Dê morando
More em mim
Alimente
Dê-me o que sente
De repente
Dormirei
Mirando a ti
Teu leito

De rio
De leite
Teu cheiro de lírio
Dormirei
Te mente
Mentes a ti
De tudo
Tentes
Dê mentira
Dê verás
De ver
Dentes
Sol ri dentes
Dou entes
Eu dei
Dê também
Dê lírios

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Catarata


Não deixarei que encantes

Os meus olhos folguedos

Que nada ao teu olhar inflame       

 

Não deixarei de canto

Os teus olhos falsários

Nada ao meu olhar informam

 

Não deixarei que cantes

O meus olhos falsetes

Com seu olhar soprano

 

Não ouvirei o conto

Dos teus olhos faltantes
 
Para meu olhar infante
 

Nunca haverá encontro

Dos teus olhos foguetes

Com meu olhar luar

 

Nada que tua retina seca

Mira ou molha ao me olhar

Seu olho a bailar insano

Sem som, sem foco, sem estar

Nada enfoca, nada vê

Nada enfarta, nada crê

Nada, nada, nada

Água, água, água

Água de olho é lágrima

Lágrima turva o olhar

Não deixarei que encontres

Lágrima, água, retina, luar

Olho que nada crê

Nada projeta pra fora

Nada projeto vigora

Alucinação

Anunciação

Tudo olha

Nada vê

 

 

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Egoisticamente


O dia em que me fui de mim
Esqueci-me endereço próprio
Fechei a chave dentro e tranquei-me
Acenei-me e estranhei-me
Da janela me vi a distanciar-me
Sem me olhar para trás sentia que via sumir-me
Diluir-me numa multidão de eus que não me distinguiam
Deixei-me para sempre trancada em mim
Nunca mais passei e me vi, na minha janela em que me mirava
Andava a deriva, derivando-me em cada eu mesmo
No dia que me fui de mim, deixei-me só comigo
Fui egoísta e saí sem pensar em mim, que ensimesmada morreria
Sozinha, reclusa e ausente de mim que saíra para libertar-me
Talvez quisera matar-me, abstendo-me da minha presença que me fiz questão de esquecer-me
Eu corria e zombava dos eus que via, todos tão autolocalizados
Olhavam-me na janela e acenavam-me, logo os eus que eu desprezava-me
Preferia andar-me sem endereço próprio
Sem me endereçar caminhava por vias de mim mesma
Eu estava presa, estava longe de mim, vagando-me apartamento
Apartando-me fui de mim a toda hora
Desprezando-me de dentro e vagando-me de fora
 
 


 

 

domingo, 24 de agosto de 2014

EsCUtológico

Comeu o prato que cuspiu
Cuspiu o que comeu no prato
No prato, cuspiu e comeu
Comeu cuspe no prato
Cuspiu o prato que comeu
Comeu e cuspiu o prato
O prato cuspido no prato que comeu
Come cuspe e comeu no prato
Prato cospe comida
Cuspiu e comeu o prato cuspido
Comeu comida no prato e cuspiu
Comida no prato que cuspiu
Cuspiu no cu e o comeu no prato
Comeu o prato no cu cuspido
Comeu o cu no prato e cuspiu
Cuspiu o cu no prato que comeu
No prato comeu cuspe do cu
Cu comido no prato cospe
Cuspiu no prato que comeu com o cu
Comeu no prato e cuspiu o cu na comida
Cuspiu o prato no cu e comeu com cuspe
No cu comeu o prato cuspido
EsCutológico
 
 

sábado, 9 de agosto de 2014

BOI VERDE


Um boi verde
Pasmado
Um boi pasto
Um boi pesto
Um boi peste
Um boi verde
Estranho e estranhado
Um boi verde
Tolerante e tolerado
Na boiada caminha
Olha perplexo
Os bois brancos, pretos
Marrons e malhados
O boi boia
O boi olha
As imagens e não vê seu reflexo
O boiola
O boi chora
Mas não pisca
Mas não pasta
O boi na pista
Não amadura
O boi armadura
O boi vegetariano
O boi churrasco
O boi tempero baiano
O boi tempo
O boi vento
O boi sempre atrasado
O boi lento
O boi leitor
O boi toque
O boi entorpecido
O boi utopia
O boi empatia
Boi antipático
Boi patético
Parassintético
O boi paraplégico
O boi verde
Mais uma cabeça na boiada
O boi vê mas não enxerga nada
O boi daltônico
O boi Dante
O boi com peso de elefante
E alma de borboleta
O boi bucho
O boi hetéro
O boi bicha
O boi bi
O bobinho
Óbolo
O boi duende
O boi doente
O boi anormal
O boi excêntrico
O boi azeitona
Exprimido até seu azeite
Óh boi , aceite
A vida no curral
Olhe a boiada
Olhe para cada boi normal
Olhe até que a vida de boi
Lhe seja natural
Boi verde natureza
Preserve o verde
Óh boi fecundo
Teu curral é teu mundo
O boi que envelhece
O boi sêmen
O boi semente
O boi muge
O boi mente
O boi foge
O boi urge
Boi demente
Boi que fode
Boi meu
Boi eu
Boi verde, mas boi
Bom ver-te
Mas foi
Verdade
Vim dizer-te
Que agora é tarde
Amanhã é o abate
Mas como matar
O boi abacate?
Será que ele contamina?
Será que têm vitamina?
Será sagrado?
Estará sangrando?
Óh boi, verde
Viva a vida de boi
Que serás tolerando
Que serás notícia
Que serás adorado
Por toda peste da febre bovina
Tu serás culpado
Até que acorde boi escritório
Boi do bom sustento
Pai do bezerro
Do teu rebento
Com a vaca amarela
Que sempre pulou a janela
E não te deixou falar
Ela não sabe quem és tu
Tu não sabes quem é ela
Mas formam uma patota
Uma família de gado patriota
Verde, amarelo e bezerro
Boi do que nunca foi
Do desterro
Com o vácuo preenchido com capim
Tanto boi em você
Tanto boi em mim
Nosso boi pasto, pesto, peste
Nosso boi ocupado
Nosso boi desgarrado
Nosso boi sustento
Nosso boi suspeito, violento
Nosso boi curado
Boi de bons modos
Boi mudo, currado
Finalmente boi curral
Boi de cu igual
Quadrado
Cabeça de gado
Mas verde...
De boicotar
De boi voar
Boi voa?
Mas é boi verde!
Verde
Verdinho
Verdura
Ver dói
Não ver não cura
O boi verde
Voou
E assim foi
Ninguém
Nem boiada
Nem abatedouro
Nem vaca
Nem vida
Nem o boi
Nem nada
O amadurou
O boi verde
Esperança esperada
Verde ficou


(Foto: Nadav Bagim (AimishBoy)/ www.aimishboy.com/BBC)

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Ditos reescritos


Quem não chora
Não ama


Deus ajuda
Mas depois julga

Quem tudo quer
Nada escolhe


Água morna
À pedra jura
Tanto faz
O tempo que dura

 
Um dia reaça
No outro um ditador

 
Em um dia passa
No outro renova a dor

 
Para bom entendedor
Meia palavra falta

Para bom criador
Meia palavra sobra

Para bom enganador
Meia palavra diz

Para bom poeta
Meia palavra
é poesia concreta

 
Que meu fino beijo
Sua boca adoçe

 
Águas passadas
Não movem futuros


Uma andarilha só
Não faz
Passeata


Tudo que não marca
Engoda

 
Mudam-se os tempos
Surgem as tempestades

Mudam-se as crenças
Mudam-se as divindades

 
Não há mal que o tempo não dure
 
Não há verde que o tempo não madure
 
 
Quem semeia intentos
Coleciona vontades


domingo, 20 de julho de 2014

SORTIDA


 
Perguntei a sorte
Qual caminho me leva ao meu norte?

A sorte é como um vento

Uma brisa que se esconde

Quando passa é um respiro

Quando a aspiro ela me responde
Não há norte, nem sorte, nem vento

Nada corre em ti

Tudo passa forte e lento

Não há onde, nem por que
Vá pelo caminho e ande

O trajeto não te retrai

A distância te expande
Tudo que de brisa há

De sorte, norte, sul ou azar
Tudo que nasce pra perecer

Amor, ódio, medo, compaixão
Todo o caminho e toda direção

Tudo é você