terça-feira, 23 de setembro de 2014

Catarata


Não deixarei que encantes

Os meus olhos folguedos

Que nada ao teu olhar inflame       

 

Não deixarei de canto

Os teus olhos falsários

Nada ao meu olhar informam

 

Não deixarei que cantes

O meus olhos falsetes

Com seu olhar soprano

 

Não ouvirei o conto

Dos teus olhos faltantes
 
Para meu olhar infante
 

Nunca haverá encontro

Dos teus olhos foguetes

Com meu olhar luar

 

Nada que tua retina seca

Mira ou molha ao me olhar

Seu olho a bailar insano

Sem som, sem foco, sem estar

Nada enfoca, nada vê

Nada enfarta, nada crê

Nada, nada, nada

Água, água, água

Água de olho é lágrima

Lágrima turva o olhar

Não deixarei que encontres

Lágrima, água, retina, luar

Olho que nada crê

Nada projeta pra fora

Nada projeto vigora

Alucinação

Anunciação

Tudo olha

Nada vê

 

 

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Egoisticamente


O dia em que me fui de mim
Esqueci-me endereço próprio
Fechei a chave dentro e tranquei-me
Acenei-me e estranhei-me
Da janela me vi a distanciar-me
Sem me olhar para trás sentia que via sumir-me
Diluir-me numa multidão de eus que não me distinguiam
Deixei-me para sempre trancada em mim
Nunca mais passei e me vi, na minha janela em que me mirava
Andava a deriva, derivando-me em cada eu mesmo
No dia que me fui de mim, deixei-me só comigo
Fui egoísta e saí sem pensar em mim, que ensimesmada morreria
Sozinha, reclusa e ausente de mim que saíra para libertar-me
Talvez quisera matar-me, abstendo-me da minha presença que me fiz questão de esquecer-me
Eu corria e zombava dos eus que via, todos tão autolocalizados
Olhavam-me na janela e acenavam-me, logo os eus que eu desprezava-me
Preferia andar-me sem endereço próprio
Sem me endereçar caminhava por vias de mim mesma
Eu estava presa, estava longe de mim, vagando-me apartamento
Apartando-me fui de mim a toda hora
Desprezando-me de dentro e vagando-me de fora